Educar para a ética
O papel das escolas e das famílias
A construção de uma sociedade eticamente saudável
Uma sociedade eticamente saudável não nasce por acaso. É o resultado de uma construção paciente, contínua e intencional — que começa na base: em casa e na escola. Famílias, seguidas de instituições de ensino, são os primeiros espaços onde se aprende (ou não) a moralidade, o valor da verdade, da empatia, da integridade, da justiça e da responsabilidade.
O carácter forma-se desde cedo
Muitas vezes, relegamos a ética à idade adulta, como se fosse algo que se adquire com o tempo ou pela experiência profissional. Mas o carácter não se improvisa, é preciso moldar desde cedo, forma-se na infância, na dita primeira infância. Crianças que crescem num ambiente onde se valoriza a conversa, o diálogo, a escuta, o respeito pelas diferenças e a honestidade, quando se tornam adultos ficam mais conscientes do seu papel na sociedade.
A ética não deveria ser imposição, mas algo que se “cultiva” naturalmente, no ambiente familiar, pelo exemplo diário.
O vazio moral na família e na escola
No nosso dia-a-dia, temos assistido, com enorme tristeza, ao vazio moral nos dois pilares fundamentais da formação humana:
a) Nas famílias que, pressionadas pelas exigências económicas, negligenciam o tempo de convivência e diálogo com os filhos; e
b) Nas escolas que priorizam apenas o conteúdo técnico, sem espaço para a formação cívica e ética.
O resultado são gerações que sabem muito, mas com pouco discernimento.
Quando a falta de ética choca a sociedade
Alarmou e chocou a todos, presumo que aos próprios actores da cena, o recente caso de violação sexual de uma aluna adolescente por colegas de escola na Província de Maputo.
É repugnante concluir que houve falha na educação em casa e no ambiente escolar igualmente não houve formação suficiente sobre a postura e comportamento de um aluno, o que resulta da degradação dos valores morais da sociedade.
Só o consumo de bebidas alcoólicas por adolescentes nas escolas e arredores já é uma demonstração de falhas na educação das crianças.
Perguntas sem resposta
E fica sem respostas as perguntas:
Onde estão os pais, os encarregados de educação?
Onde estão os pais da turma?
As reuniões de turma e dos conselhos de escola, ainda funcionam?
A direcção da escola?
Educar para refletir e agir com consciência
Educar para a ética é mais do que ensinar o certo e/ou o errado. É preparar as crianças, os adolescentes e jovens para reflectirem antes de agir, para questionarem práticas injustas, mesmo que aparentem ser comuns.
É criar espaços onde se debatem dilemas morais do quotidiano: copiar num teste, furar a fila, desrespeitar, mentir para proteger interesses, violentar física, verbal ou sexualmente e fechar os olhos ao sofrimento do outro.
Famílias e escolas como modelos de integridade
Famílias devem ser os primeiros modelos de integridade e respeito. O exemplo tem mais força do que qualquer discurso moral.
As escolas, por sua vez, precisam de ser mais do que locais de preparação para exames; devem ser laboratórios de convivência, de empatia e de responsabilidade social.
Pais e professores não são apenas transmissores de conhecimento, são transmissores de valores – para o bem ou para o mal.
O papel da Igreja na formação moral
Um amigo, no Facebook, perguntou-me: e o papel da Igreja de educador da moral, onde se perdeu?
Percebi que a referência a se ter perdido é um grito de socorro à tamanha imoralidade que se vive actualmente. Espera-se que a Igreja seja o garante do equilíbrio social, assegurando não só a difusão de valores éticos e morais mas, principalmente, a sua implementação.
Não pode haver dúvidas quanto ao papel moralizador e humanizador da Igreja, é um papel único e deve ser cumprido.
Todos nós, cidadãos comuns e servidores públicos, esperamos da Igreja — a casa Divina — a orientação espiritual, moral e intelectual completa, para que a sociedade seja um lugar justo e mais prazeiroso de se viver.
Ensinar ética com a mesma seriedade das ciências
Se quisermos uma sociedade melhor amanhã, devemos hoje ensinar a ética com a mesma seriedade com que ensinamos matemática, ciências ou leitura.
Porque um diploma sem carácter pode até abrir portas, mas é só a ética e a moral que mantêm essas portas abertas com dignidade.